Quando não se domina muito bem uma língua, a gente perde alguns detalhes de uma conversa. Alguns adjetivos aqui, alguns verbos ali, nada de muito grave. O contexto nos salva em grande parte dessas situações.
As expressões faciais dos participantes da conversa também ajudam. Um arregalar de olhos, uma risada que foi evitada, ou a expressão de indiferença. Todos esses fatos ficam mais evidentes quando não se entende tudo. E como não gosto de atrapalhar o pensamento da pessoa que fala, algumas vezes finjo que entendi tudo, quando na verdade perdi alguns pequenos detalhes. Acabei descobrindo que eles fazem muita diferença.
Tenho alguns exemplos: pensava que uma colega minha era farmacêutica: ela é contadora de uma empresa de cosméticos. Pensava que meu amigo tinha comprado um barco quando era estudante. Ele apenas alugou um barco da antiga escola onde estudava.
E a gente vai escapando dessas emboscadas da língua estrangeira até que ela nos pega: certo dia, estava almoçando com uns colegas de trabalho húngaros. Falávamos sobre comidas. Certo momento, um deles começou a falar sobre uma comida que não conseguia entender o que era. Deixei ele falando, concordando com o que ele dizia. Dessa forma, subentendia-se que eu já a tinha provado. Quando esperava que ele acabaria com um ponto, ele me manda uma pergunta:
- Ele: “e você: o que achou do …”
- Eu (quase engasgando com o susto): ” o que achei do … ???”
- Ele: “é! Gostou ou não? O que achou da consistência?”
Totalmente encurralado, só me restava o contra-ataque:
- Eu: “achei mais ou menos. E você: o que acha da páprica?”
E pra meu alívio, a conversa foi seguindo a prima forte da pimenta.
Moral da história: a melhor defesa é o ataque!