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Detalhes

15 de julho de 2011

Quando não se domina muito bem uma língua, a gente perde alguns detalhes de uma conversa. Alguns adjetivos aqui, alguns verbos ali, nada de muito grave. O contexto nos salva em grande parte dessas situações.

As expressões faciais dos participantes da conversa também ajudam. Um arregalar de olhos, uma risada que foi evitada, ou a expressão de indiferença. Todos esses fatos ficam mais evidentes quando não se entende tudo. E como não gosto de atrapalhar o pensamento da pessoa que fala, algumas vezes finjo que entendi tudo, quando na verdade perdi alguns pequenos detalhes.  Acabei descobrindo que eles fazem muita diferença.

Tenho alguns exemplos: pensava que uma colega minha era farmacêutica: ela é contadora de uma empresa de cosméticos. Pensava que meu amigo tinha comprado um barco quando era estudante. Ele apenas alugou um barco da antiga escola onde estudava.

E a gente vai escapando dessas emboscadas da língua estrangeira até que ela nos pega: certo dia, estava almoçando com uns colegas de trabalho húngaros. Falávamos sobre comidas. Certo momento, um deles começou a falar sobre uma comida que não conseguia entender o que era. Deixei ele falando, concordando com o que ele dizia. Dessa forma, subentendia-se que eu já a tinha provado. Quando esperava que ele acabaria com um ponto, ele me manda uma pergunta:

  • Ele: “e você: o que achou do …”
  • Eu (quase engasgando com o susto): ” o que achei do … ???”
  • Ele: “é! Gostou ou não? O que achou da consistência?”

Totalmente encurralado, só me restava o contra-ataque:

  • Eu: “achei mais ou menos. E você: o que acha da páprica?”

E pra meu alívio, a conversa foi seguindo a prima forte da pimenta.

Moral da história: a melhor defesa é o ataque!

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Amor Perfeito

13 de julho de 2011

É difícil dizer isso por aqui, mas às vezes a gente encontra um novo amor sem querer. Pois é, quando a gente não procura, simplesmente aparece.

Não estava nos meus planos. Sinto um sentimento estranho que me faz querer estar sempre perto. E quando percebo que está chegando o dia de partir, meu coração aperta. Logo tento mudar meus planos. “Talvez eu consiga adiar minha volta!” Não. Não consegui. Vou embora domingo. E vou sentir saudades do meu novo amor.

Não entendo o porquê desse sentimento tão forte em mim. Afinal, ela é cheia de defeitos. Muitos! Tantos que, os que a conhecem bem, não a querem perto. Talvez o que eu esteja sentindo seja essa coisa chamada de “paixão de verão”. Mas não me importo com a opinião dos outros. Quase todas tem defeitos! Gosto dela e pronto! Conheço ela tão bem, que posso chamá-la de minha: minha querida Budapeste!

Quem não tem defeitos e é perfeita é o meu Sol, que está lá no meu Recife, contando os dias pra poder escutar minha voz dizendo pra ela: “serei sempre só teu!”

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Pós-paroxítonas

28 de junho de 2011

O húngaro é cheio delas. Quase nenhuma oxítona. Palavras de muitas sílabas, daquelas que é preciso encher os pulmões antes de falá-las. Ouço várias delas. O dia todo. E isso cansa.

Talvez seja loucura minha, mas acho que temos dois tipos de ouvidos: os que ouvem o que queremos, e os que captam tudo que está ao nosso redor. Quase nunca percebemos, mas o que escutamos sem notar nos influencia. Ou, no meu caso, o que não escuto: uma palavra brasileira.

Hoje foi um daqueles dias que a tolerância chega a níveis mínimos e as atitudes ao extremo. Não diria “obrigado” em húngaro, não diria “tchau”, ou “desculpe-me”. E quando o estresse está alto, eu decido comer Big-Mac.

Fui no senhor Donalds. Só queria falar uma palavra. Só o nome do tão famoso sanduíche. E nada mais. Então, depois de pedir um, o atendente fala algo incompreensível para mim. Começou um duelo. Eu pedia “batatas fritas grandes”, e ele entendia que eu não queria. Depois entendia que eu só queria o hambúrguer. No fim, nos meio-entendemos: a batata não era grande.

Chegando em casa cansado disso tudo, percebi que o tão rejeitado silêncio que todos os dias me recebe, hoje, teve um lado bom. E ao tomar meu banho, fiquei feliz ao ouvir um som bem oxítono e brasileiro: a água do chuveiro caindo no chão.

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Nomes

24 de junho de 2011

Quando se está em um país de língua desconhecida, a gente tenta entender como uma criança aprende. Primeiro, tudo o que ela escuta não faz sentido algum. Mesmo assim, ela tenta ouvir o que falam perto dela ou para ela. Aí ela começa a perceber onde as palavras iniciam e terminam. Então ela nota quais são as que mais se repetem, grava algumas delas e arrisca dizer, só pra ver no que vai dar. Vem vários adultos achando bonitinho e ficam falando mais palavras e assim vai. Mas eu não tenho o privilégio de ser um bebê. E aí entra a adaptação, que falei em um post anterior…

Nomes. O mundo é feito basicamente disso: casa, comida, praça, metrô, ponte, predio. Comida. Predio. Metrô, ponte, praça, casa. E isso é o meu dia, com apenas nomes. Os verbos não são tão importantes. Se eu falar “mim – casa – praça”, jamais poderá significar que eu quero CONSTRUIR uma casa na praça. Então o unverso dos verbos fica restrito e eu me salvo sem muitas palavras!

Então aí vai um nome que tem significado universal e pode te salvar em todos os lugares do mundo: Big-Mac!

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Horas

21 de junho de 2011

5 a mais que o Brasil. Aparentemente, não muito. Mas pra quem precisa trocar horários dos relógios por causa do o outro lado do mundo, feito eu tenho, isso faz uma diferença enorme. Enquanto vocês estão acordando, eu já estou quase almoçando.

Embora eu tenha conseguido controlar meu relógio biológico desde o primeiro dia, o Sol as vezes atrapalha. Quando eu penso que são 16:30, já são 19:30. E quando o Sol se põe às 20:30, eu vejo que mais um dia se foi.

E aí eu lembro do Brasil de novo. O meu relógio que estava em 17:30 e tinha sido adiantado pra 20:30 tem que voltar pra 5 horas a menos (14:30, não, 16:30… não, 15:30) e começo a tentar organizar minhas coisas em sincronia com o Brasil.

Mas isso tem um lado bom: adiantar e voltar o relógio várias vezes te dá um gostinho de “superioridade” sobre o Tempo…

Então eu vejo que no meu relógio local são 1 da manhã e que vou acordar às 6 horas quando aí no Brasil será, novamente, 1 da manhã.

Entendeu? Não? Nem eu!

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Língua

20 de junho de 2011

Húngaro. Na Hungria se fala húngaro. E eles dizem que é uma língua única, sem nenhuma parecida. Não é como o português, que tem a irmã espanhola, a prima francesa e o tio italiano. O húngaro é uma língua estranhamente bonita. Já me acostumei a escutar pessoas conversando. Reconheço logo quando as pessoas são turistas. No húngaro, existem muitos ‘r’ no estilo “rrrrrooonaldinho”, de Galvão Bueno. Bonitos. Elegantes.

Se eu tenho vontade de aprender? Já estou aprendendo:

  • Kössönöm = Obrigado
  • Szívesen = de nada
  • Egészség = Saúde
  • Bocsánat = desculpa

Nos significados, as palavras variam muito. Existe um “obrigado” (köszönjük)  que é dito quando se está em grupo. O mesmo para egészség.Várias outras palavras são assim. Para quem quiser um curso online de húngaro, aqui está: http://impulzus.sch.bme.hu/info/magyar.shtml

Não terei tempo de aprender tudo. Mas quem sabe eu não terei outra oportunidade? Há um ano, nem sonhava com a possibilidade de estar na raiz de uma língua ímpar, onde estou hoje.

Deus nos dá várias missões na nossa vida. Ainda preciso descobrir a minha, aqui.

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Outro Mundo

16 de junho de 2011

Quem não tiver algum meio de comunicação que receba algo passivamente levante a mão. TV, rádio, TV e radios online, Youtube, LastFM, Séries Americanas, etc. Quem não sente falta deles é porque, na maioria dos casos, mora com alguém em casa. O fato é: como seres sociais que somos, sentimos necessidade de receber, passivamente, informações (imagem ou som) vindas de outros seres humanos.

Não tenho como assistir TV na minha casa. Eu até tenho TV, mas não tem antena. Quando cheguei, achei que não precisaria. Estou mudando de ideia. Mesmo que seja uma língua que não entenda, é bom ouvir alguém falar algo.

Também não tenho rádio. Seria até mais barato comprá-lo do que uma antena de TV. Mas uma TV algo mágico! É o mundo em uma caixa…

Internet? Estou limitado a 1 GB de dados por mês, que me priva de tentar assistir qualquer videozinho que seja no Youtube.

Se eu estou achando ruim? Não necessariamente. A privação de muitas coisas desperta a nossa melhor habilidade: podemos nos adaptar a qualquer novo mundo!